Terça-feira, Dezembro 21

Revolta

- Ah, esses arrogantes. Essa gentinha cheia de empáfia que anda por aí com seus narizes apontando o teto. Quem diabos eles pensam que são? Só porque andam com essas roupinhas bem cortadas, toda engomadinha? Olha, olha só a maneira como eles caminham. Todos duros, formais, como se fossem donos do mundo. Escuta esse barulho, escuta! Ouve só como caminham fortes, batendo esses pesões. Para quê fazer essa barulheira toda? Querem dizer o quê? Que mandam nesta joça? Ora, ora, façam me o favor. Voltem para as suas casa! Vão procurar o que fazer! Ninguém precisa de vocês por aqui. Fora! Agora!
- Pai, o senhor vai nos obrigar a passar por isso todos os desfiles de 7 de setembro?

Segunda-feira, Dezembro 20

Sac do Papai Noel

“E aIh, VeLiNhO,

O NiGoHcIo Eh O sIgUiNtE. tOu AfEeNzAuM De uMa GaTeEnHa LaH dA fAcUl. SoH kI eLa SoH dA bOlA pRuM kArInHa Ki TeIn Um AuDi FiLmAdAçO... hUahUahUahUahUa... nUm DaH pRa Tu Mi DiScOlAh UmA kArAnGa NuOvA?

Mi FaLa uMa PaRaDa... o MaGoO uM bRoDeR mEu dIsSe Ki aS rEnA sAuM tUdO vIaDo. Eh VeRdAdE mAnU? hUahUahUahUahUa

aBrAcEtAs,

xExA”

Moleque,

Vai se tratar. Depois, volte para a escola. No primário.

Noel

Quarta-feira, Dezembro 15

Férias

A animação na casa de Francisco era total. Depois de muitos anos de clausura na cidade grande, finalmente a família iria passar o melhor do verão na praia. Desfrutariam do contato com o mar de Mongaguá, litoral paulista, desde as vésperas do Ano Novo até quase o final de janeiro.

Meire, sua esposa, já fazia a lista das compras que seriam levadas na viagem. Muito mais barato do que comprar por lá, afirmava convicta. As crianças já imaginavam os castelos de areia que fariam e, eufóricas, queriam aprontar as malas um mês antes da partida.

Feliz da vida, Francisco olhava aquela agitação na família com um brilho nos olhos que há muito tempo não tinha. Era uma questão de honra proporcionar bons momentos a todos. Lembrava-se da volta por cima depois dos tempos de pindaíba após o fechamento da metalúrgica onde havia trabalhado por quase treze anos. Um momento realmente especial.

Aconselhado pelo compadre que emprestou o apartamento na praia, Francisco decidiu levar o carro para o mecânico dar uma olhada. Só prevenção. Não queria correr nenhum risco. Avisou a esposa, deu um beijo na sua caçula e saiu.

Voltou no final da tarde, sol querendo ir embora. Pegou o elevador sem vontade. Saiu e parou em frente à sua porta segurando um papel meio amarrotado em uma das mãos. Era o orçamento do mecânico. Angustiado, pensava numa maneira de contar que todo o dinheiro que haviam guardado teria que ser usado para arrumar o carro.

Terça-feira, Dezembro 14

Festas

Aquele tilintar penetrava em seus ouvidos. O sino do Papai-Noel magrelo parecia uma agulha, já não muito afiada, sem tanto poder de perfuração, forçando seus tímpanos na tentativa de rompê-los. Irritante. Não menos, porém, que caminhar sob o sol de dezembro. E sem os óculos escuros. Carlos amaldiçoava aquele momento tão vil do ano: as compras de Natal.

A mulher gentilmente o obrigava a acompanhá-la. “Não consigo fazer tudo sozinha, né?” E, pior, os tempos de crise os tiraram dos confortos do shopping: ar condicionado, estacionamento coberto, relativa tranqüilidade. Tudo fora trocado pelas lojas de rua, comércio popular, mais barato e completamente cheio.
Andar por aquelas ruas nessa época não é para qualquer um. É praticamente um treinamento militar. O andar aos solavancos pelos encontrões com os que vinham em sentido contrário, as poças d’água no meio fio, as calçadas esburacadas. Isso quando as barracas dos camêlos permitiam. Sem falar na sujeira. Caminhar por aqueles lugares era como estar numa guerra. Lá, só os mais fortes – “e os mal-educados”, pensava – sobreviviam.

As lojas eram como bunkers a serem penetrados. Cada uma utilizava sua estratégia para espantar as pessoas. Palhaços, mágicos, som nas alturas. Vale tudo. E mesmo assim elas se debatiam para alcançar os tabuleiros com as roupas todas ali, emboladas.

Numa parada para tomar uma água e comer algo, Carlos olhava sem ânimo para a coxinha em suas mãos e pensava desconsolado “E ainda tem o Natal”.

Domingo, Dezembro 12

Proposta

Mão naquilo, aquilo na mão. Os beijos, molhados e ardentes. Gemidos fortes e suspiros de prazer. O ato era praticamente inevitável. Após seis meses de namoro, Rosane e Oswaldo estavam prestes a consumar, carnalmente, aquela relação tão respeitosa entre os dois. Afinal, Oswaldo não conseguia esquecer as doces palavras do sogro “Eu mato o canalha que fizer mal à minha filha, eu mato!”. Aquela frase ecoava a todo o instante em sua memória.

Mas, de repente, Oswaldo percebera que haviam chegado a um beco sem saída. Transarem, naquele momento, era a única saída. Sôfrega, Rosane desvencilhava-se de sua blusa, exibindo o sutiã rendado que comportavam seus seios firmes e médios. O namorado suava frio. Olhava para o colo desnudo da amada e ouvia a frase do velho ecoando novamente. Ela, fogosa, atacava sem dó nem piedade.

Oswaldo, então, pegou-a pelos ombros, olhou firmemente em seus olhos e disse com volúpia “Rosane, que tal procrastinarmos?” A garota foi pega de surpresa. Nunca haviam lhe pedido isso antes. Sim, já haviam feito mal a ela. E há muito tempo. “Jura que você quer isso?” retrucou. Ele balançou a cabeça resoluto. “Tudo bem, mas se doer você pára, tá bom?” Nem bem terminou a frase, Rosane já se ajeitava no sofá esperando pela aproximação do namorado. Longos segundos se passaram e cansada de fitar a parede da sala, ela virou-se pra ver o porquê da demora. Perplexa, só viu o vulto de Oswaldo afivelando o cinto e saindo da sala escura pela porta que dava para a rua.

Sexta-feira, Dezembro 10

Sac do Papai Noel

“Dear Santa,

To com um problema série. Sabe o que é? To com 29 anos e não casei até hoje. Toooodas as minhas amigas já arrumaram marido, menos eu. Namorado eu tenho. Ou melhor, já tive vários. Mas eles não duram nem seis meses. Eu e o Ricardo estamos juntos há 5 meses. Parece que a coisa vai engrenar dessa vez. Mas eu to meio chateada com ele. Faz 2 dias que o Ri não me liga. Já deixei 12 recados na caixa postal do celular, mandei uns 15 e-mails e já falei com a dona Carmen, a mãe dele, umas 8 vezes. Isso hoje. Ontem foi mais. Porque será que ele não me liga? Será que ele ter saído cantando pneu depois de me deixar em casa da última vez que nos vimos tem alguma coisa a ver?? A Fernada, minha colega lá na firma, falou que homem quando começa com isso não presta. Sei não. Será? Eu e o Ri nos damos tão bem. Ele me ouve tanto. Tem uma paciência. Mesmo quando fico um pouco mais nervosa por causa da TPM. Teve um dia que eu nem acreditei. Eu tava muito deprimida e precisava agitar, fazer alguma coisa, sabe? Aí eu queria ir até a José Paulino. Sabe onde é? Aquela rua aqui no centro de São Paulo cheia de lojas ma-ra-vilho-sas. É um pouquinho cheia eu, sei. Mas lá é tudo de bom. O senhor acredita que ele topou me levar. E ainda me ajudou a carregar minhas compras. Nossa, renovei meu guarda roupa. Comprei 8 calças, 6 saias, 4 mini-saias, umas 20 blusinhas de cotton. Ai, amei. Do que eu tava falando mesmo? Ah, então, Papai, eu queria ver se eu casava ano que vem. O senhor me dá uma ajuda?

Um beijão pro senhor e pra Mamãe Noel também, tá?

Marcela (mas pode me chamar de Má)”


Minha cara,

Em primeiro lugar, Santa é a... Deixa pra lá, vai. O negócio é o seguinte: a primeira coisa que você deve fazer pra casar é deixar de ser essa mala sem alça que você é. Faça isso e só depois me procure novamente. Bom Natal pra você. Ho-Ho-Ho...

Quinta-feira, Dezembro 9

Sac do Papai Noel

“Caro Papai Noel,

O ano está acabando e não atingimos as metas de faturamento para o período. Com isso, a matriz está fula da vida e ameaçou o presidente. Ele, por sua vez, soltou os cachorros no diretor, que detonou com o gerente, que tá querendo arrumar alguém pra Cristo. Será que o senhor pode me dar de Natal o restante que falta para atingirmos a nossa meta?

Obrigado,

Alberto R.”

Meu jovem,

Lembro de você do ano passado. E você me pediu um planejamento que pudesse gerar uma boa grana este ano. Hummm... Deixa ver se eu adivinho. Seu departamento viajou na maionese e não seguiu o que tava escrito. Acertei? Pois é, meu amigo, sinto muito, mas esse ano você terá que se contentar com uma bela gravata de 19,90. E não se esqueça de usar o presente dessa vez

Saudações,
Papai Noel

Quarta-feira, Dezembro 8

Burburinho

O vazio daquele canto havia sido preenchido. Sempre morto, triste, inóspito, de repente ganhou vida. Um verdadeiro enxame causava um tremendo burburinho. Os passantes ouviam o zum-zum-zum com um certo temor. Do que seriam capazes aqueles seres ávidos pelo brilho intenso?

Era preciso fazer algo. Reclamaram com o condomínio. “É preciso acabar com aquilo. Dá medo até de passar perto”, disse um. “Desculpe, nada posso fazer”. De fato, não havia muito que fazer. A loja de bijuterias havia pago para colocar ali seu balcão por um tempo. E, como abelhas atraídas por belas e suculentas flores cheias de pólen, as mulheres se amontoavam ao redor disputando um pedaço de ilusão colorida.

Terça-feira, Dezembro 7

Vida real

“3, 2, 1, vai!”

A música começa e as luzes se acendem. Surge o apresentador. Cumprimenta os telespectadores e põe-se a explicar o que acontece. É um reality show, mais um. Porém, esse é diferente. Não tem um monte de gente. É um desafio para uma única pessoa.

Durante o dia todo, câmeras do programa vão seguir Francisco desde o momento em que sai de casa para o trabalho até o seu retorno, à noite.

O apresentador, então, mostra o perfil de Francisco. Está faixa dos 45 anos e um certo ar de cansaço no rosto, apesar do sorriso para a câmera. O corpo magro dança solto dentro do terno um tanto mal cortado. Casado, pai de dois filhos, funcionário público. Tem um apartamento financiado de pouco mais de 50 metros quadrados e Gol 1999.

Começa o programa de fato. Cabelos penteados para trás, Francisco, de mangas curtas, gravata e calça de prega, tenta fazer o carro pegar. “De vez em quando ele apronta dessas comigo”, diz sem graça para o cinegrafista sem olhar diretamente para a lente.

Chega à repartição. Os risinhos e cochichos dos outros funcionários por conta das câmeras são visíveis. O protagonista do espetáculo, já com um café que pegou na passagem pela copa, vai até sua mesa.

Durante o restante do programa, Francisco recebe e despacha pilhas de papéis. Assuntos chatos, memorandos sem nexo, pedidos absurdos. Mesmo assim cumpre sua rotina. Lê o documento, bate o carimbo necessário, assina e passa para o próximo.

Sentada no sofá, ao lado do esposo, Arlete assistia em silêncio o reality show. Intervalo de programa, ela se anima e comenta “Chato isso, né?”. “É...” responde com enfado o marido. Arlete completa “Mas amanhã melhora. É só o primeiro dia”. “É...”

Sexta-feira, Dezembro 3

Dia seguinte

Desesperado, levantou correndo. Cegado pela escuridão, foi barrado pela parede. Tateou à procura de um caminho. Um fiapo de luz é avistado. Ainda tonto pelo encontrão imprevisto, segue o caminho guiado pelo facho. Finalmente encontra a saída. Angustiado e catatônico, abre a porta em desespero. Era um abismo. Cai por longos segundos. Primeiro a aflição. Depois, o torpor. Larga-se na queda. Inesperadamente, mergulha num gigantesco tanque com um liquido gelado. Há muita espuma por lá. Bolhas de gases vindas do fundo massageiam seu corpo. Apesar do frio, a sensação é boa. O aroma do tal liquido e a cor dourada o atraem. Sorve um pouco. Dá um segundo gole. Maior. Instintivamente, continua a beber. Dorme boiando.

O despertador toca incessantemente. Acordar é inevitável. O difícil era sair da cama. Não tinha forças para levantar a cabeça que, naquele momento, tinha o tamanho do tanque em que havia caído.

Quinta-feira, Dezembro 2

Tempos de glória

Mais de um século de triunfos e glórias. É o que cantam os torcedores flamenguistas. A maior torcida do país lembra-se com orgulho dos craques do passado. Domingos, Zico, Leônidas, Bebeto, Zizinho, Edmundo, Zagallo, Nunes. Fazer uma lista é complicado. Muita gente boa vestiu a camisa.

Hoje, olhando para a escalação do Flamengo, dá até pena: Júlio César, China, Júnior Baiano, André Bahia e Roger; Da Silva, Ibson, Zinho e Jônatas; Jean e Dimba. Com essa equipe, é melhor mudarem o nome do time para Framengo*.

*framengo adj mal desenvolvido; raquítico, mofino. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Pg 1384, 1ª edição.

Quarta-feira, Dezembro 1

Fast Food brasileiro

Numa certa capital brasileira, numa recém-inaugurada loja de comida rápida.

Atendente: Seje bem-vindo ao Oxe, Meu Rei. Posso tirar o seu pedido?
Cliente: Oi. Quero o número um, faz favor.
A: O senhor pode tá trocando seu aipim médio por um grande. Quer?
C: Quanto fica a mais?
A: dois cruzeiros.
C: Demora muito?
A: Não. É rapidinho.
C: Tá bom, eu quero.
Atendente grita pro fundo da lanchonete: Génilson, solta um acarajé e um aipim. Grande!
Atendente fala com cliente: Cocada branca pra sobremesa?
C: Não, obrigado.
A: O senhor conhece a nossa promoção?
C: Não! Me conte.
A: É assim. Se o pedido do senhor demorar mais que 2 horas, o senhor ganha uma fitinha do Senhor do Bonfim.
C: Mesmo?!? Oxe. Bom demais.
A: O senhor fique aqui do lado do balcão, faz favor.
C: Pois não.
A: Próóóóóóóóóóximo!