Quinta-feira, Outubro 28

Passeios com a Holga

Já falei dela aqui, lembra? A chinesa com nome de atriz pornô da República Tcheca. Isso! Pois então, olha só umas fotos que fizemos em nossos passeios recentes.


Essa aqui foi no Mercadão. Essa escada faz parte do novo mezzanino que foi contruído por lá.




Primeiro turno. Muitos fantasmas andando por aí.





A vida passando defronte aos olhos desses senhores. Sesc Pinheiros.


Quarta-feira, Outubro 27

Trinta segundos (a nova micronovela das 8 - 2o. capítulo)

Dois dias sem notícias. Tudo bem que Andréia costumava dar umas sumidas. Mas pelo menos ela telefonava. Ou até mesmo atendia o celular. Dessa vez não. E não foi por falta de tentar que Renato não a encontrou. Começou a pensar em dar um novo rumo à vida. Mas antes, precisava de uma cerveja para se recuperar.

Lá pelas tantas, depois da vigésima tentativa de aliviar da bexiga os excessos da boca, Renato deu um encontrão. Um grande susto. Tivesse bebido um pouco menos e poderia ter ficado sóbrio instantaneamente. Aprumou os olhos e congelou. Um belo sorriso se abriu em um rosto ainda mais bonito. Olhos azuis como duas águas marinhas. Cabelos louros levemente ondulados, descendo provocantemente pelos ombros um tanto expostos. Seria uma visão?

Não era. No táxi, voltando para casa, Renato namorava aquele guardanapo de papel que registrava, quem sabe, o novo rumo que ele procura: “Virgínia 2236....”. Ficou imaginando como seria namorar Virgínia. Como seriam suas conversas. Planejou viagens e jantares para apresentá-la aos amigos. Literalmente ele flutuava. E assim, suspenso no ar, Renato entrou em seu apartamento, tirando suas roupas e indo deitar em sua cama para dormir e sonhar com o seu futuro grande amor. Olhos fechados, sorriso nos lábios, o Sono praticamente o tinha nos braços.

Ban! Ban! Ban! Os vizinhos lascivos começaram mais uma sessão libidinosa. A cama batia furiosamente contra a parede fina que faz divisa entre os dois apartamentos. Renato cobriu o rosto e voltou os pensamentos à sua nova amada.

Terça-feira, Outubro 26

Trinta segundos (a nova micronovela das 8 - 1o. capítulo)

Trinta segundos. Foi esse o tempo que Andréia precisou para se recuperar. Levantou-se de supetão assustando Renato. Rapidamente ela vestiu suas roupas, deu um tchau seco como um bom vermute e saiu. Renato achou que ela chegou a bater a porta com certa violência. Pior que isso, “por quê essa correria toda?”, pensou.

Aliás, a noite tinha sido frustrante. Olhado pela janela aberta por onde entrava um ar meio morno, Renato digeria seu descontentamento. Nem ao menos gozara desta vez. Não que das outras vezes tenha sido muito melhor. Andréia sempre lhe pedia rapidez pois já havia chegado “lá”. “Lá”, esse lugar distante, tinha um caminho tortuoso, cheio de pedras para se chegar.

Na verdade, a relação dos dois nunca foi lá aquelas coisas. Suas diferenças, notáveis no dia-a-dia, ganhavam cores vivas e contrastantes na cama. Andréia sempre foi impositiva e não abria mão do próprio prazer. Renato era mais romântico. Enquanto ele queria fazer amor, ela queria mesmo era foder.

Deitado ainda nu e envolto pela penumbra do quarto, Renato estava mergulhado nas lembranças de quando se conheceram. De como todos se espantaram ao vê-los juntos. Um casal muito improvável, pensavam. Mas um estrondo puxou Renato do meio dos seus pensamentos. Apurou o ouvido e aguçou a atenção. Do outro lado da parede, seus vizinhos, arfantes, se entregavam a mais uma noite de luxúria e muito barulho. “Merda! De novo?!?” e cobriu a cabeça com o travesseiro.

Segunda-feira, Outubro 25

Cuidado!

Don't drink and write.

Sexta-feira, Outubro 22

O convencido

Roberto era um cara forte. E convencido. Isso mesmo, daqueles que se achavam. Desde pequeno, a mãe dizia que ele era o máximo. E assim ele cresceu, acreditando no que sua mãe coruja lhe dizia.

Adorava fazer musculação. Também lutava jiu-jitsu. Gostava de bater nos mais fracos pra se sentir superior. Os amigos o respeitavam. Bem, não era respeito, era medo. E assim Roberto vivia feliz.

Um dia, visitando uma obra – era trainee em uma empresa de engenharia. Só não me pergunte como ele entrou na faculdade –, teve pela frente um desafio. Um grupo de peões o chamou para almoçar. Meio contrafeito, aceitou.

Foram comer um sanduíche. Um churrasco grego, na verdade. Chegando lá, Roberto se espantou. Era uma verdadeira massa disforme, feita de uns retalhos de carne de aparência horrenda. Ficou com medo. Tinham mais duas pessoas antes de chegar sua vez de pedir. Suava frio. A salada ficava numa gavetinha junto com o troco dos clientes. E o “churrasqueiro” usava a mesma mão pra pegar o dinheiro e as folhas murchas de alface.

Ele não suportava mais ver aquilo. Seu estômago já não encontrava posição. Sua vez chegou. Pegou seu sanduíche com cuidado para que não respingassem pingos grossos de gordura que pingava do pão. Sua calça de sarja era novinha.

Uma. Duas mordidas. Aquilo tudo não descia. Por mais que mastigasse, a pasta rançosa que se formara em sua boca não avançava seu caminho. Aquele gosto seboso começou a lhe enjoar ainda mais. Tentou mandar tudo para dentro com o suco de maracujá dulcíssimo que tinha na outra mão. Conseguiu.

Mas tudo aquilo não permaneceu nem um minuto. Num forte espasmo, Roberto regurgitou seu inacabado almoço, sujando-se todo. Sentiu-se humilhado. Muito envergonhado. E teve que enfrentar a risada rasgada do grupo de subordinados que ele costuma zombar.

Quinta-feira, Outubro 21

A oriental, minha esposa e eu

Sua origem é chinesa. O nome, de atriz pornô da República Tcheca. O corpo desarrumado não deixa ver quem ela realmente é. E de fato ela é bem enigmática.

Quando apresento Holga para as pessoas, todos lançam olhares perplexos. Primeiro para mim. Depois para minha esposa. Aí começam todas as explicações. Minha esposa se esforça em mostrar que a Holga é maravilhosa. Que faz coisas que ninguém pode imaginar.

Nós três vivemos juntos, numa relação aberta. Muitas vezes vamos juntos aos lugares. Ao bar, à casa de amigos, ao Mercado Municipal. Se você nos encontrar, verá um trio feliz em suas incursões pela cidade.

Um dia, quem sabe, você também encontra a sua Holga. E viverá feliz para sempre como nós.

Segunda-feira, Outubro 18

Pensamento pra criar juízo

Começar a semana tomando cerveja logo na segunda é como soltar freio de mão na ladeira. Você só pára lá na frente.

No ar (micronovela em 3 partes - 3o. Capítulo)

Como num estalo, as lembranças daquele passado distante a paralisaram. Com o olhar perdido, ficou revendo em sua mente os bons momentos que vivera com ele. Lembrou também dos maus e como tudo terminou. Aquilo mexeu com sua mente.

Pensava que deveria tomar uma atitude. Mudar de vida. De emprego. De cidade. Estava cansada de tudo mas, conformada, vivia numa insatisfação insuspeita. Era uma pessoa agradável sempre. Os amigos a adoravam. O pessoal do escritório também. E os jantares que promovia para os colegas do marido eram um grande sucesso. Recebia bem, cozinhava bem. Mas, definitivamente, não queria mais ser aquela mulher perfeita.

Pensou que não poderia perder uma chance dessa. Resoluta, era esse o momento único de mudar o rumo das coisas definitivamente. Quando chegasse em casa, contaria ao marido, arrumaria as malas e partiria. Pronto. Era isso que faria.

Ficou alguns segundos com o olhar perdido no infinito. Foi despertada por uma voz fina que pedia “Vamos pra casa, mamãe”. Foi como um tapa na sua imaginação. Quando menos esperava, acordou do seu sonho. Lembrou daquele momento no avião e de como jogou tudo para cima. Literalmente. Sai correndo para o banheiro deixando no chão o copo d’água e uma revista que estavam na mesinha. E uma nova vida, que estava ali bem na sua frente.

Faz 10 anos. Desde então, nunca mais voou. Preferiu deixar nos ares uma possível felicidade que nunca mais vai encontrar.

Sexta-feira, Outubro 15

Ressaca féstifudiana

A pressa é inimiga da refeição.

Frio (micronovela em 3 partes - 2o. Capítulo)

Uma leve turbulência chacoalhou a aeronave. Nada demais, o suficiente para acordá-la. Sem abrir os olhos, procurou no ambiente alguém acordado. Nada. Silêncio total. “Deve ser tarde”. Ficou na dúvida se deveria olhar em volta. Finalmente havia conseguido dormir numa posição mais confortável. Não queria perdê-la.

Quando menos esperava, lembrou-se do encontro de poucas horas antes. Sentiu-se, mais uma vez, triste. Jamais imaginaria que um dia voltaria a sentir aquilo. Sempre foi muito tranqüila a esse respeito. Uma vez foi categórica ao responder a uma amiga “Não sinto mais nada”. “Mentira”, pensou. Um simples esbarrão trouxe de volta aquele turbilhão de sentimentos e sensações.

Não sabia como lidar com tudo aquilo. Em poucas horas chegariam aos seus destinos. E então, o que fazer? Despedir-se sem nada dizer? Perder-se no meio da multidão? Ou falar a ele sobre tudo o que sentia? Essa dúvida a incomodava fortemente.

Antes de tentar voltar ao sono anterior, quis ir ao banheiro. Abriu os olhos e deu com ele parado, olhando-a profundamente. Gelou.

Quinta-feira, Outubro 14

Encontro (micronovela em 3 partes - 1o. Capítulo)

Sem querer, se esbarram na fila. No exato momento em que cruzaram os olhares para o formal pedido de desculpas, seu corpo foi atacado por uma descarga de, supôs, adrenalina. Fazia tempo que não se viam. Ele, feliz com o reencontro, deu-lhe um beijo muito carinhoso. Ela retribuiu. E o abraçou por um longo tempo.

Iam pegar o mesmo avião. Ela voltaria para casa, ele iria à trabalho. Claro que sentaram lado a lado. Tanto tempo sem se ver, havia muito o que falar. Ele teve um casamento rápido, menos de 4 anos. Sem filhos, continuava um homem interessante. Enquanto ele falava, seu olhar percorria os movimentos dos lábios. Definitivamente ela ficou abalada com aquele encontro inesperado. Mais de dez anos sem um telefonema, uma palavra trocada e, de repente, isso.

A longa viagem permitiu que muito de suas vidas fosse colocada sobre a mesinha da poltrona da frente. Quando ele já dormia, recuperando energia para seus compromissos, ficou um largo momento o olhando. Lembrou de tudo o que havia acontecido. Resolveu descansar também. Virou para o outro lado, puxou o cobertor e deixou a lágrima, que estava contida com muito esforço, rolar.

Quarta-feira, Outubro 13

Sensações

Lá fora o céu era negro. O asfalto molhado refletia as luzes dos carros que se amontoavam no prenúncio do começo do fim do dia. Lá dentro, o barulho de teclados e pessoas incomodava seus ouvidos que pulsavam incessantemente. Mais lá dentro, sua cabeça doía fazia algumas horas. Seu estômago revirava procurando uma posição para se acomodar. Uma ajuda extra. Cheiro de pipoca de microondas. Estava pronto o cenário de um final trágico. Levantou-se abrupto jogando a cadeira para trás e lançou-se numa corrida de vida ou morte em direção ao banheiro.

Segunda-feira, Outubro 11

Sina

O pequeno bastão de papel parecia fazer parte de sua mão. Em parte, por estar sempre ali. Também por se confundir com a magreza de seus dedos brancos amarelados pela fumaça. Sua compulsão pelo fumo era algo extraordinário. Praticamente acendia um cigarro no outro. De fato, o fazia com assustadora freqüência. Emendava praticamente todos.

Tal excesso o tornava um sujeito amarelento. Não só os dedos. Sua face, os cabelos grisalhos desgrenhados, os dentes. Todo ele tinha uma coloração esquisita. A voz, então, era duma rouquidão úmida, do peito afetado pelas toneladas de fumaça ingerida ao longo do anos.

A verdade, a triste verdade, é que a vida lhe abandonara. Vivia sozinho numa kitnet escura e abafada. A mulher não suportou ter que conviver com o cheiro que impregnava tudo. Tampouco tinha paciência para continuar a aspirar as cinzas que transbordavam sem cerimônia dos cinzeiros todos. Partiu um dia sem ao menos dar um adeus. Mandou os papéis do divórcio e pronto.

Quando se casou, achou que poderia mudá-lo. Tentou de todas as formas fazê-lo ao menos diminuir o fumo. Não. Só aumentou ao longo dos anos. Um dia soube que o ex-marido estava mal, à beira da morte. Comprou passagem e foi vê-lo. Não deu. Mas preocupou-se em realizar um último desejo. Transformou-o em cinzas.

Segredo

Sua figura era, no mínimo, intrigante. Apesar da juventude, sua figura denotava mais idade. Muitas vezes ludibriou pessoas por causa disso. Se tinha essa vantagem, porque não usá-la?, pensava.

Suas roupas fugiam do usual. E, numa sociedade conservadora como a em que vivia, sempre ouvia desaforos. Que não ficavam sem resposta, é claro. Era, muitas vezes, agressiva. Mandava muitos se foderem sem a menor cerimônia. E remorso era algo que nunca sentira. Sua agressividade, ajudada pelos pequenos apêndices metálicos que exibia no rosto, não poupava homem nem mulher. Nem velho, nem jovem, nem criança.

Essa agressividade toda, que não tinha razão aparente além da reação às críticas, intrigava a todos. Pais, irmãos e amigos, todos inquietos por conta do mistério envolto por atitudes tão extremas. Verdadeiras mesas redondas eram feitas pra discutir sua vida. O que, aliás, a deixava mais irritada.

O que toda a gente não sabia é que o segredo que escondia jamais poderia ser revelado. No fundo, bem no fundo mesmo, ela era uma pessoa doce, meiga. E, definitivamente, isso ela não aceitava.

Quinta-feira, Outubro 7

Pelos olhos

Ar soturno, olhar triste, ombros descaídos. Na boca, um forçado sorriso bege. Era assim que todos esperavam encontrá-la. Ser viúva ao redor dos 30 anos é algo que deve marcar demais, pensavam. Ao saberem de sua chegada, um alvoroço natural tomou conta do lugar. Com ela estaria?

Surpresa. Jovial, sorridente, engraçada como sempre. Claro que ninguém ousou tocar no assunto. Para que ficar lembrando da morte precoce do marido? Melhor deixar pra lá. Queriam aproveitar aquela alegria contagiante.

Era muito bom vê-la assim, tocando sua vida apesar dos pesares. Os mais observadores, porém, percebiam. Através dos seus olhos era possível ver a dor doendo quieta lá dentro.

Terça-feira, Outubro 5

Olhares

Entre os amigos ele era reconhecidamente um pegador. Mulher nenhuma escapava. Se ele fosse ao banco, as caixas se derretiam. Na fila do supermercado, era alvo de olhares quase devoradores. Por onde passava fazia sucesso.

No trabalho, sua reputação era de um homem com h maiúsculo. As garotas, ao saberem que ele havia se separado da mulher, ficaram todas as agitadas, tanto as solteiras quanto as casadas. Até o dia em que ele colocou Lulu Santos pra tocar no computador e, pior, pensavam todos(as), a cantar juntos. Depois disso os olhares nunca mais foram os mesmos. E ele nem faz idéia do porquê.

Segunda-feira, Outubro 4

Da obrigação

Era um dia sofrido. Enquanto todos gozavam o descanso merecido, dormindo aquele sono que todos gostam de ter num dia chuvoso e cinzento, Alcides teve que despertar com o grito histérico do rádio-relógio. Eram pouco mais do que 6 da manhã. O Sol, preguiçoso, mal iluminava o céu por trás da grossa camada de nuvens.

Alcides levantou e arrastou os chinelos até o banheiro. Molhou o rosto com a água gelada da pia tentando ligar o cérebro. Sem sucesso. Mecanicamente, meteu-se numa roupa qualquer e saiu.

*****

Eram 16:59. Como havia feito durante todo o dia, amaldiçoava aquele momento. “Pro inferno com tudo isso. Escolham logo!” vociferava mentalmente. Sua introspecção foi quebrada por um agito que vinha dos corredores. Levantou-se com má vontade, irritado com a própria curiosidade. “10, 9, 8, 7...”. Aproximou-se da porta. “...6, 5, 4...”. Um sujeito entra esbaforido pelo corredor, como se da sua corrida dependesse a própria vida. “...3, 2, 1, acabooooou!” Parado na porta, bloqueando a passagem, Alcides encarava profundamente o sujeito que, ao final da sua corrida, tentava adentrar a sala. Com um ar triunfante e até um pouco cruel, Alcides declarou solene “Sinto muito amigo, a votação está encerrada”