Segunda-feira, Outubro 4

Da obrigação

Era um dia sofrido. Enquanto todos gozavam o descanso merecido, dormindo aquele sono que todos gostam de ter num dia chuvoso e cinzento, Alcides teve que despertar com o grito histérico do rádio-relógio. Eram pouco mais do que 6 da manhã. O Sol, preguiçoso, mal iluminava o céu por trás da grossa camada de nuvens.

Alcides levantou e arrastou os chinelos até o banheiro. Molhou o rosto com a água gelada da pia tentando ligar o cérebro. Sem sucesso. Mecanicamente, meteu-se numa roupa qualquer e saiu.

*****

Eram 16:59. Como havia feito durante todo o dia, amaldiçoava aquele momento. “Pro inferno com tudo isso. Escolham logo!” vociferava mentalmente. Sua introspecção foi quebrada por um agito que vinha dos corredores. Levantou-se com má vontade, irritado com a própria curiosidade. “10, 9, 8, 7...”. Aproximou-se da porta. “...6, 5, 4...”. Um sujeito entra esbaforido pelo corredor, como se da sua corrida dependesse a própria vida. “...3, 2, 1, acabooooou!” Parado na porta, bloqueando a passagem, Alcides encarava profundamente o sujeito que, ao final da sua corrida, tentava adentrar a sala. Com um ar triunfante e até um pouco cruel, Alcides declarou solene “Sinto muito amigo, a votação está encerrada”