Sexta-feira, Outubro 22

O convencido

Roberto era um cara forte. E convencido. Isso mesmo, daqueles que se achavam. Desde pequeno, a mãe dizia que ele era o máximo. E assim ele cresceu, acreditando no que sua mãe coruja lhe dizia.

Adorava fazer musculação. Também lutava jiu-jitsu. Gostava de bater nos mais fracos pra se sentir superior. Os amigos o respeitavam. Bem, não era respeito, era medo. E assim Roberto vivia feliz.

Um dia, visitando uma obra – era trainee em uma empresa de engenharia. Só não me pergunte como ele entrou na faculdade –, teve pela frente um desafio. Um grupo de peões o chamou para almoçar. Meio contrafeito, aceitou.

Foram comer um sanduíche. Um churrasco grego, na verdade. Chegando lá, Roberto se espantou. Era uma verdadeira massa disforme, feita de uns retalhos de carne de aparência horrenda. Ficou com medo. Tinham mais duas pessoas antes de chegar sua vez de pedir. Suava frio. A salada ficava numa gavetinha junto com o troco dos clientes. E o “churrasqueiro” usava a mesma mão pra pegar o dinheiro e as folhas murchas de alface.

Ele não suportava mais ver aquilo. Seu estômago já não encontrava posição. Sua vez chegou. Pegou seu sanduíche com cuidado para que não respingassem pingos grossos de gordura que pingava do pão. Sua calça de sarja era novinha.

Uma. Duas mordidas. Aquilo tudo não descia. Por mais que mastigasse, a pasta rançosa que se formara em sua boca não avançava seu caminho. Aquele gosto seboso começou a lhe enjoar ainda mais. Tentou mandar tudo para dentro com o suco de maracujá dulcíssimo que tinha na outra mão. Conseguiu.

Mas tudo aquilo não permaneceu nem um minuto. Num forte espasmo, Roberto regurgitou seu inacabado almoço, sujando-se todo. Sentiu-se humilhado. Muito envergonhado. E teve que enfrentar a risada rasgada do grupo de subordinados que ele costuma zombar.