Segunda-feira, Março 28

Quinze minutos

Suava frio. De escorrer do alto da testa e chegar a molhar o colarinho da minha camisa. Devo admitir, apesar de ter muito lutado para chegar àquele momento, estava com medo daquela situação. Um frio na barriga e um nó na garganta praticamente me impediam de falar. Aquela gente toda ali, olhos atentos e audição aguçada, esperando pelas minhas palavras.

Sim, eu havia me preparado para passar por tudo isso. Ensaiei meu discurso inúmeras vezes. Sabia de cor cada palavra, a entonação, as pausas. Na teoria, era perfeito. Só não contava com a paúra que me acometia com tanta força. Não havia, porém, como voltar atrás. Havia marcado aquela reunião. Pelo vidro, via as pessoas todas se acomodando na sala à minha espera. Sentia meu coração batendo forte e rápido como se quisesse saltar pelo meu peito rasgando minha camisa nova, comprada para aquele momento.

Não tinha mais como adiar. Toquei a campainha e esperei resposta. Ao ver uma pequena fresta se abrindo, empurrei a porta com força e entrei. Entrei e despejei o discurso ensaiado. Falei, pelo que ouvi dizer, 15 minutos sem parar. Atônita, minha platéia ficou muda e espantada com minha atitude. E durante todo o tempo em que lá estive, não fui interrompido por um pio sequer.

Não tenho muito claro o que aconteceu. Até hoje, minha noiva, perdão, ex-noiva não me perdoa. Só não sei se por eu ter resolvido sair do armário daquela forma ou por causa da portada que dei em sua avó.