Terça-feira, Janeiro 18

Fim de noite

Impossível de não reparar. O casal sentado à mesa, um de frente para o outro. Conversavam com certa animação. Não muita. Mas parecia haver um carinho muito especial entre eles. Em nenhum momento, porém, se tocaram ou deram a entender ser um casal de fato.

Depois de um tempo esqueci de sua presença. O restaurante encheu, novas caras surgiram e atraíram minha atenção. Continuei meu papo com minha amiga. Ela, coitada, se lamentava do namorado que não lhe dava atenção. E eu, coitada, ouvia entediada. Nunca fui dessas mulheres que gostam de sofrer junto com minhas amigas seus problemas sentimentais. O que, inclusive, me causava alguns embaraços. Como eu era insensível, diziam. Dava de ombros e continuava minha vida.

Voltando do banheiro, não resisti. Mudei o trajeto só para encontrar o tal casal. Curiosidade feminina, claro. Ele se inclinou sobre a mesa e a beijou. Ela retribuiu. Ele voltou à posição inicial e continuaram a conversar. As mãos, porém, agora se tocavam até com certa timidez. Os perdi de vista ao voltar para a minha amiga.

Meia hora depois, quase morta de tédio, pedi para ir embora. Meio a contra-gosto – acho que não havia se lamentado o suficiente –, ela pediu a conta. E, gentilmente, pagou. Acho que foi uma forma de compensar toda sua chatice. Uma coisa boa na noite, pelo menos.

Chegamos ao estacionamento e percebi um casal literalmente grudado um ao outro. Sôfregos, se beijavam com fúria. Com surpresa, os reconheci. Sim, eles estavam no restaurante. De comportados a selvagens. Não consegui tirar os olhos. O carro chegou e o manobrista abriu a porta. Antes de entrar, pude ouvir ele dizer “Vamos para minha casa”. Ela suspirou forte, quase gemendo. Sua noite deve ter sido boa.