Quinta-feira, Março 10

Compromissos

Um dia, quando eu ainda era criança, meu pai me colocou no colo e disse com um certo tom profético “Meu filho, você vai ser um homem de sucesso.” Na época, claro, nem dei muita importância. Só queria sabe se poderia ir até o campinho com a molecada da vizinhança.

Mas à medida que o tempo passava, eu comecei a reparar que de fato minha vida não era comum. Jovem ainda, era um sucesso. Os professores se adimiravam com a minha capacidade. Os meninos queriam todos serem meus amigos. Já as meninas, suspiravam por mim. Sim, era legal. Mas se não tivesse nada disso, tudo bem. Continuaria minha vida.

Mais tarde, a coisa começou a ir além dos muros do colégio. Comecei a ficar conhecido em todo lugar. Rapidamente ganhei as páginas dos jornais. Primeiros umas notinhas. Depois, páginas inteiras. O assédio, evidentemente, extrapolou todos os limites. A todo momento eu vivia cercado de pessoas. Gente querendo se aproveitar da minha visibilidadem do meu sucesso, evidentemente.

Com muita rapidez, me tornei um grande expoente nacional. A população depositava em mim seus votos de esperança por um dia seguinte mais alegre. Eu seguia a minha sina com naturalidade. Visitava cidades e mais cidades sempre trazendo uma legião de seguidores num cortejo quase religioso. Aliás, muitos, principalmente os mais humildes, me consideravam quase um messias, uma pessoa que com atos e palavras poderia resover muitos problemas. Logo, todo esse cenário tomou âmbito mundial. Não havia país que não esperasse receber minha visita ansiosamente. Quantos presidentes posaram ao meu lado para fotos tentando tomar para si um pouco da minha credibilidade.

Hoje devo confessar que estou um pouco cansado de tudo isso. Afinal de contas, não sou mais garoto. As pernas pesam. O vigor já não é o mesmo. Parece que tudo o que eu fazia com tanta facilidade tornou-se um trabalho árduo. Mas eu continuo com minhas obrigações. Tenho compromisso com a imensa multidão que me colocou, aclamado, nesta posição. Não posso de forma alguma desanpontá-los. Mesmo que os que fazem parte da minha equipe não dêem conta do serviço.

Falando em serviço, está na hora de fazer o meu. Está ouvindo? É, estão gritando meu nome. Dá dois minutinhos que eu vou ali bater o pênalti e já volto.