Quarta-feira, Fevereiro 2

Companhia

Marli entrou no banho animada. Em pouco tempo, Murilo chegaria. Só de pensar nisso seu coração disparava. Pensava nos bons momentos que passariam juntos. Enquanto a água lhe escorria pelo corpo, massageava sua pele com o sabonete cheiroso como se as mãos dele estivessem percorrendo cada uma de suas curvas.

Curvas não lhe faltavam, aliás. Apesar da idade, Marli chamava a atenção por onde passava. Na verdade, isso foi o resultado de um processo. Depois de 32 anos de um casamento massacrante, viu-se abandonada de uma hora para a outra. Entrou em depressão, comeu compulsivamente e, claro, engordou. Muito. Dava pena de seu estado.

Um dia ficou se olhando no espelho longamente. Por uma hora, talvez. Ao ver aquela figura decadente, a sua própria imagem!, teve diversas sensações. Primeiro teve asco. Em seguida ficou com raiva. O ápice foi sentir dó do que via. Tinha dó de si mesma. Percebeu, então, que havia chegado ao fundo do poço. Que estava afundada na lama e que de lá precisava sair com urgência.

A primeira decisão foi cuidar de si mesma. Exercícios, dieta balanceada, meditação. Tudo para entrar no eixo novamente. Depois, foi estudar inglês, arrumou um novo emprego e se tornou uma nova pessoa. Uma pessoa melhor, diziam todos.

Já passavam das dez da noite quando o interfone tocou. Ela abriu a porta esperando por Murilo. Ao sair do elevador, ele encontrou Marli vestida com um robe provocante. Foi em sua direção e deu-lhe um beijo ardente, daqueles que ela adorava e faziam suas pernas bambearem.

Antes de arrastar o rapaz para seu quarto, Marli disse com o carinho habitual:- Se eu estiver dormindo quando você for embora, não esquece de fechar a porta e de pegar o seu dinheiro, ta?