Quinta-feira, Novembro 11

Justificativa

O tempo abafado da capital fazia todos penarem. Era um vento morno que entrava pela janela e aquecia o ambiente. Henrique, entre um despacho e outro na repartição, amaldiçoava a mesma burocracia que lhe dava emprego. Motivo? Ninguém liberava a tal verba do ar condicionado.

Para atrapalhar, Marilda ajudava a esquentar o ambiente. Com a temperatura lá em cima, ela se via obrigada a usar suas roupas mais frescas. E com menos panos. A cada passagem pela mesa, Henrique derretia. Não só pelo andar suingado e pelas formas cheias de pecado. Ele praticamente perdia a razão com o rastro suavemente perfumado que ficava.

Henrique não disfarçava. Já havia sido, inclusive, alertado pela chefia da repartição. E Marilda, apesar das caras de desprezo, no fundo parecia gostar quando os olhares invadiam seu decote despudoradamente.

Um dia, ele perdeu a cabeça. Voltando para casa com o paletó pendurado no braço, sua única preocupação era explicar para a mulher o que sua mão fazia sob a saia de Marilda.