Terça-feira, Novembro 30

Conforto

Deitado em sua cama, Reinaldo via passar em sua mente boas lembranças. O apartamento, a geladeira de último tipo, a tv de tela grande que enchia a sala não tão grande assim.

“Bons tempos, bons tempos”, pensava. De fato, Reinaldo era do tipo de pessoa que valorizava essas coisas. Não que ele gostasse de ostentar. Pelo contrário. Não tinha nem condições para isso. Queira mesmo era ter o conforto que não conheceu na infância.

Seu maior problema, porém, foi poder comprar tudo isso. Trabalhava, mas o salário era pouco. O emprego, aliás, fora arrumado pelo irmão. Reinaldo, na verdade, nem era muito chegado a trabalho. Mas precisava viver. Conformado, levava aquela vidinha sem aspirações que fossem além de abastecer-se de confortos eletro-eletrônicos.

A mulher estranhou um dia tantas novidades. Sabia que a renda de ambos não era suficiente. Ele respondeu que um “cara é que vende barato no bairro. Ele encosta o caminhão e quem quer, leva na hora”. “Carga roubada, é claro”, disse ela entre nervosa e brava. Ele retruca “Eu não sei de nada. E como eu não sei, eu compro”. Ela ameaçou começar uma discussão. Desistiu. Sabia que a teimosia e a obtusidade do marido a venceriam. Sempre venceram.

Embalado pelas memórias daqueles tempos, Reinaldo voltou a fechar os olhos e começou a afundar no seu sono. Foi interrompido por uma batida metálica. Era hora de levantar. Restavam ainda 1 ano, 3 meses e 7 dias de pena para cumprir. Fora condenado por receptação de carga roubada. Suspendeu-se da cama e saiu para o banho de sol diário.