Sexta-feira, Setembro 24

Um chopps e dois pastel

Quando Juca chamou Marli para trabalhar, ela ficou em dúvida. O salário não era lá essas coisas, mas fazia um certo tempo que estava parada. E, além do mais, o trabalho seria igual a qualquer lugar, afinal pastéis são pastéis. Juca, o dono, disse que apesar de pequena, sua pastelaria estava crescendo e que tinha bons e fiéis clientes. Na dúvida, Marli achou melhor aceitar. Nunca se sabe o dia de amanhã, não é mesmo?

Com poucas semanas no seu ofício diário de dar forma atraente àquela massa achatada, a nova pasteleira começou a perceber que as coisas não eram bem como lhe fora pintado. O pessoal do balcão fazia uma confusão incrível. Os pedidos sempre vinham errados. Se pediam de carne, o cliente, na verdade, queria o de pizza. Se era pra soltar um de queijo, o pedido era um de palmito. Uma loucura.

Isso pra não falar nos outros pasteleiros. Ao invés de se esmerarem na criação de belos pastéis, como fazia Marli, eles se preocupavam em inventar coisas. Um dia, imagine, quiseram fazer pastel de quiabo com fígado! Haja “criatividade”. E falta de gosto.

Um dia, chegando ao trabalho, Marli viu seus jovens colegas se divertindo numa nova receita. Era um pedido de Juca, que gostaria de comemorar o aniversário da pastelaria lançando uma nova receita. Durante meses os animados rapazes se puseram a trabalhar no pedido.

Horas e horas de trabalho acumuladas na tarefa, eles decidem levar até Juca a criação. O dono pega um pastel da bandeja, tasca uma mordida e mastiga com vigor. Apreensivos, os criadores esperam atentamente. “Que delícia”, proclama o chefe, “Parabéns! Com esse novo sabor atrairemos muito mais clientes para cá.” Satisfeitos, os funcionários se puseram a produzir um número infindável da sua inédita criação, o pastel de queijo. Vai entender.

Marli continua lá. Pelo menos por enquanto. Mas está ansiosa para ir para outra pastelaria criar suas delícias para outra freguesia. Pra passar o tédio, ela diverte-se com as outras figuras. A sua favorita é a Neide, que trabalha no caixa. Boba como ela só, vive suspirando por Juca. Ele, que de bobo não tem nada, sempre dá corda. Mas na verdade nem que saber dela.